Castelos Templários em Portugal – Tomar

Vista aérea do Castelo de Tomar

Vista aérea do Castelo de Tomar

O Castelo de Tomar fica na freguesia de São João Baptista, no concelho de Tomar, no distrito de Santarém. Sua construção foi iniciada em 1160, no que restava da cidade de Sellium, fundada pelos romanos, passando esta a ser designada de Tomar quando do início da construção do Castelo.

Mas por que Tomar? Diz a lenda, que D. Gualdim Pais, mestre da Ordem do Templo na época da doação das terras aos templários pelo rei D. Afonso Henriques, encontrava-se explorando a cidade abandonada de Sellium, um pouco afastado de seus companheiros. Começa a ouvir gritos destes que diziam: Toma-lo! Toma-lo! (Pegue-o! Pegue-o!). Estavam todos envolvidos na caça a um javali, que aparecera de repente. D. Gualdim quando vê o javali já morto, resolve que não apenas o Castelo mas toda a área ao redor passaria a chamar-se Tomar.

Capitel na Igreja de São João Baptista, onde é representada a caçada ao javali que teria dado nome à cidade de Tomar.

Capitel na Igreja de São João Baptista, onde é representada a caçada ao javali que teria dado nome à cidade de Tomar.

Independente de ser verdade a lenda, o fato é que a palavra “tomar” também pode ser usada com o significado de “conquistar”. Não se pode esquecer que nesta época estava sendo empreendida a Reconquista das terras ocupadas pelos muçulmanos na Península Ibérica. A caçada ao javali foi esculpida em um capitel e em um portal da Igreja de São João Baptista, que se localiza na freguesia de mesmo nome.

O Castelo de Tomar divide espaço com outras construções, sendo a mais notável o Convento de Cristo, cuja construção iniciou-se pouco depois do castelo, em 1162. Mas as maiores modificações foram feitas no século XVI, o que acabou por lhe dar um aspecto arquitetônico diferenciado do castelo. O Convento de Cristo é considerado patrimônio da humanidade pela UNESCO. O Castelo de Tomar é classificado como Monumento Nacional, de arquitetura militar, onde se pode encontrar elementos de diferentes estilos (românico, gótico e renascentista). É cercado por uma muralha dupla, ou dupla cintura de muralhas. Na parte interna amuralhada, havia uma divisão de espaços, tendo uma área de Praça de Armas separada, por uma zona elevada amuralhada, da Almedina ou Medina – nome dado a cidades que eram construídas dentro de muralhas, e significa cidade em árabe. No ponto mais alto fica a Torre de Menagem (torre mais elevada de um castelo e o último reduto de defesa), totalmente cercada por mais uma muralha, e contígua à Alcáçova (cidadela), onde residiam as autoridades eclesiásticas e militares. A muralha externa é recortada por vários cubelos arredondados ou quadrados (torres), que comportavam os homens que a defendiam, e encima uma área inclinada denominada de alambor – espécie de muro em rampa que dificultava o acesso à muralha e suas torres.

Sítio onde teria existido o Castelo de Cera

Local onde teria existido o Castelo de Cera

O Castelo de Tomar foi antecedido pelo Castelo de Cera – este nome originou-se de sua designação romana Castrum Caesaris – que localizava-se na freguesia de Alviobeira, também concelho de Tomar, distante cerca de 10 km do atual Castelo de Tomar. O Castelo de Cera provavelmente foi construído ainda antes da ocupação romana, sendo reaproveitado por estes e pelos posteriores ocupantes da zona. Acabou por ser destruído, segundo alguns, pelos muçulmanos na época da Reconquista empreendida por D. Afonso Henriques no século XII. Já outros afirmam que, por ser muito pequeno e estar em mal estado, teria sido abandonado, quando D. Afonso Henriques doou o castelo e as terras ao redor para a Ordem do Templo. Deste castelo resta apenas um amontoado de pedras, em Alviobeira, onde supõem os arqueólogos teria existido este castelo.

A ocupação humana do atual concelho de Tomar remonta a cerca de 30 mil anos, pelos achados arqueológicos, o que equivale dizer que a região já era habitada no Neolítico. Também na área que ocupa Tomar, segundo alguns, teria existido a cidade de Nabância, associada a uma divindade pré-romana chamada Nabia (água corrente), relacionada às águas e rios, da mitologia celta, brácara e lusitana. Esta cidade teria sido fundada no século V a.C., por um povo oriundo do sul da península, uma tribo dos Tartessos, e depois ocupada pelos romanos. Foi já comprovado que a cidade de Nabância não é propriamente em Tomar, apesar de ainda haver quem associe Tomar a Nabância. Porém, há um rio que passa pela cidade chamado Nabão (Nabanus para os romanos), nome que estaria associado à cidade de Nabância. No século I d.C., na época do imperador romano Augusto, foi fundada a cidade de Sellium que, esta sim comprovadamente, era onde hoje fica a cidade de Tomar. O tempo passou, e a pequena cidade romana de Sellium foi sucessivamente sendo incorporada ao território de novos ocupantes. No século V chegaram os suevos e no século VI os visigodos. Foi durante o domínio visigodo que ergueram-se em Tomar (Sellium) os primeiros templos cristãos. É desta época a Lenda de Santa Iria (também chamada de Santa Irene), santa não reconhecida pela Igreja Católica, sendo até os dias de hoje, padroeira de algumas paróquias em todo Portugal. O nome do distrito de Santarém seria uma corruptela do nome de Santa Iria (Sancta Irene).

Vista do interior do Castelo

Vista do interior do Castelo

Após os visigodos chegaram os muçulmanos que ficaram pelo atual concelho de Tomar e até D. Afonso Henriques iniciar a Reconquista, logo depois da fundação do Reino de Portugal. Graças à ajuda dada pela Ordem do Templo na reconquista de Santarém, a região hoje ocupada por Tomar e proximidades foi doada à Ordem, no ano de 1159. Além das terras e o Castelo de Cera, os rendimentos que seriam recebidos pelas igrejas locais passavam às mãos dos templários. A Ordem podia explorar toda a zona economicamente, sem dever impostos ao rei ou ao bispo, ou qualquer outra obrigação, além da de defender aquele território de qualquer ataque muçulmano. Em 1160 tem início a construção do Castelo de Tomar, e da vila situada dentro das muralhas do castelo, a Almedina. As terras férteis junto ao rio Nabão, além da proteção dos templários, atraíram povoadores.

Porta que dava acesso à Almedina, rebatizada de Porta do Sangue quando to cerco de Tomar em 1190.

Porta que dava acesso à Almedina, rebatizada de Porta do Sangue no cerco de Tomar em 1190.

Em 1185, morre D. Afonso Henriques, sendo sucedido por seu filho D. Sancho I. Poucos anos depois, os muçulmanos empreendem um pesado ataque aos territórios conquistados por D. Afonso Henriques, fazendo todo o território português recuar do Algarve até o rio Tejo. Em 1190, através das atalaias (torres de vigia) que existiam entre o Castelo de Almourol – outro castelo templário localizado em uma ilha do rio Tejo – e o Castelo de Tomar, os membros da Ordem em Tomar foram avisados do avanço muçulmano. O castelo ainda não estava concluído passados 30 anos, mas lá achavam-se duas centenas de defensores templários, acompanhados por homens locais e chefiados por D. Gualdim que já tinha 72 anos. Ao encontro deles vinham 900 guerreiros chefiados pelo califa Almansor, terceiro da dinastia Almôada, do Marrocos. Por seis dias, toda a zona ao redor do castelo foi saqueada, e chegaram mesmo a passar pela porta que dava acesso à Almedina. Mas os cavaleiros templários chefiados pelo velho mestre, conseguiram manter o castelo em seu poder. Graças a esta batalha, foi travado o avanço muçulmano, abrindo brecha a um contra-ataque e início de uma nova expansão dos domínios portugueses.

Esta não foi a última batalha em Tomar, mas a primeira grande batalha em que cumpriam ao pé da letra o acordo feito com D. Afonso Henriques de defender Tomar dos muçulmanos.

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Como sugestões de leitura deixamos aqui o link da bibliografia utilizada para a elaboração do site Tomar Terra Templária, muito bem escrito, coerente e de fácil leitura, do qual utilizamos informações e fotos para montar este post.