Estava uma vez, caminhando no Largo do Machado, no Rio de Janeiro. Fui visitar uma igreja onde minha mãe ia à missa quando morava no Rio. Comecei a sentir um perfume delicioso, e a primeira coisa que fiz foi procurar qual barraquinha de camelô estava vendendo um incenso tão gostoso (adoro incensos). Olhava para um lado e para outro e nada de achar aquele incenso tão bom. Foi quando me virei para a minha esquerda, quase atrás de mim, estava lá, aquele espetáculo da natureza.
Que incenso que nada! O perfume que eu sentia vinha das flores de uma árvore. Mas o que mais me chamou a atenção nem foi o perfume das flores, mas sim onde elas estavam. As flores que me atraíram pelo odor estavam espalhadas por todo o tronco da árvore, abertas e belas. Cheguei até a perguntar para uma pessoa que estava mesmo ao pé da árvore qual era o nome dela. Mas não soube dizer. Tirei fotos que só Deus sabe onde estão agora, e por muito tempo olhava-as e me perguntava qual seria o nome.
Abricó-de-macaco é o nome que aprendi, mas além deste nome, existem inúmeros outros pelos quais a árvore é conhecida, como: Curupita, Cuiarana, Castanha-de-macaco, Cuia-de-macaco, Árvore-de-macaco, Amêndoa-dos-Andes ou Macacarecuia. Dizem que é uma planta venerada por indígenas da Amazônia, sendo cultivada pelo homem há muito tempo. Do homem branco é conhecida desde o século XVII.
Esta árvore é originária da região amazônica, sendo que seu nome científico (Couroupita guianensis) refere-se ao local onde foi estudada pela primeira vez, a Guiana Francesa. Couroupita deriva de kouroupitoumou, o nome popular pelo qual é conhecida na Guiana Francesa. Também pode ser encontrada em zonas exteriores à floresta amazônica, como na Costa Rica, Panamá, Colômbia e Venezuela. Seu habitat natural são terrenos inundáveis e margens de igapós e rios. Mas em terrenos mais secos também desenvolve-se bem, no sul do Brasil.
Tem uma altura que pode atingir até 30 metros no habitat natural, fora dele varia de 8 a 15 metros, com um tronco de 30 a 60 cm de diâmetro. A copa da árvore é bem densa e longa, mas estreita. Muda de folhas, no habitat natural, até quatro vezes ao ano. Mas, conforme as folhas caem, novas folhas voltam a nascer e cobrem rapidamente a copa, levando apenas 4 dias do surgimento da folha até que esta atinja o tamanho normal.
As flores, o espetáculo que me atraiu com o perfume, encontram-se espalhadas por todo o tronco, e podem ser vistas entre setembro e março. No tronco surgem ramificações por todo ele que lembram cipós, e por estes brotam as flores e os frutos. Estes cipós podem crescer até uns 3 metros de comprimento. A flor tem seis pétalas vermelhas ou laranjas, e na parte interna formada por estas pétalas fica uma área branca semi-coberta por uma espécie de aba de coloração rosada ou amarelada. O perfume destas flores lembra o das rosas, sendo o óleo essencial utilizado na perfumaria. As abelhas encarregam-se da polinização.
Os frutos amadurecem entre dezembro e março. São grandes e arredondados, de cor marrom e casca dura. Chegam a pesar 3 kgs e a ter 20 cm de diâmetro. É por causa destes frutos que em inglês é conhecida como Cannon-ball-tree (Árvore-bola-de-canhão). A polpa lembra gelatina azulada e tem um cheiro desagradável. Os frutos são comestíveis, mas devido ao cheiro não são muito apreciáveis. Porcos do mato no entanto, não se importam muito com isto.
Estes frutos chegam a produzir 300 sementes, que os macacos comem, por esta razão a árvore tem o nome associado ao animal. A casca destes frutos é utilizada para a fabricação artesanal de utensílios domésticos. Estes grandes frutos levam quase um ano para ficarem maduros, e podem ser bem perigosos ao caírem.
No habitat natural, como a árvore é típica de terrenos alagados, o fruto acaba por cair na água ou ao menos em terreno alagado. Mas quando cultivadas para o paisagismo, deve-se ter o devido cuidado de não plantá-las em local de circulação de pessoas e veículos, pelo tamanho do fruto e também pelo mal-cheiro. Ainda assim, devido ao espetáculo que promove durante a floração, é largamente utilizada no paisagismo.
A madeira não é muito resistente, mas pode ser utilizada na fabricação de brinquedos, embalagens e outros artefatos que não exigem uma grande durabilidade da madeira.
Para a reprodução destas árvores fora do habitat natural, usam-se as sementes de seus enormes frutos. Depois de devidamente secas as sementes, coloca-se em recipientes individuais ou em canteiros sem sol direto (devem ficar protegidas do sol direto como estariam no habitat natural), em uma mistura de terra, argila e composto orgânico. Depois de 8 a 15 dias as sementes começam a germinar. As mudinhas que surgem desta germinação podem ser replantadas quando atingirem cerca de 10 cm. O plantio definitivo no campo pode ser feito com cerca de 6 meses. Nos primeiros anos de vida, devido à madeira ser mole, precisa de tutoreamento. Clima quente e muita água são apreciados por esta árvore. Somente depois de 5 anos de vida é que começam a aparecer as flores maravilhosas que me hipnotizaram através do perfume.
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Fontes:
Ache tudo e região – Abricó-de-Macaco
Jardineiro.net – Abricó-de-Macaco
Lecythidaceae Pages – Couroupita guianensis Aubl. (em inglês)