A Missa dos Mortos

A lenda da Missa dos Mortos não existe apenas no Brasil. Em toda a Ibero-América, assim como na Península Ibérica (Portugal e Espanha), existem variações da tenebrosa Missa dos Mortos, conhecida nos países de língua espanhola como Misa de Difuntos.

Mas vamos aqui falar de duas destas lendas de Missas dos Mortos.

A primeira teria ocorrido na cidade de Ouro Preto, Minas Gerais. Esta Missa dos Mortos foi testemunhada na Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia, conhecida também como Igreja Mercês de Cima, construída entre 1771 e 1793.

Já a segunda teria sido testemunhada na Catedral da cidade do México, no México. Esta catedral começou a ser construída em princípios do século XVI, no mesmo local onde antes existia um templo asteca e aproveitando o material de construção deste templo. Foi concluída no ano de 1813. A Missa dos Mortos teria acontecido junto ao Altar del Perdón, construído em 1735, talhado e folheado a ouro. Em 1967 este altar sofreu um incêndio que o deixou bem danificado. Teve que ser cuidadosamente restaurado.

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A MISSA DOS MORTOS DA IGREJA MERCÊS DE CIMA (OURO PRETO)

Igreja Mercês de Cima, Ouro Preto.

Vista da Igreja Mercês de Cima, Ouro Preto.

Dizem que, por volta de 1900, na Igreja de Nossa Senhora das Mercês de Cima, uma pequena igreja que fica próximo a um cemitério, o zelador e sacristão da igreja presenciou uma missa macabra. O nome deste homem era João Leite, conhecido de todos, sendo muito popular e querido na região.

Contam que, uma noite, João Leite já se encontrava deitado, quando viu luzes na Igreja. Pensando que fossem ladrões foi investigar com muito cuidado o que acontecia na Igreja. Mas ao se aproximar, percebeu que a Igreja estava repleta de fiéis, com as luzes acesas e o padre preparando-se para celebrar uma missa. Mas algo estava muito estranho nesta missa. Afinal, como zelador e sacristão não ficou sabendo que teria missa naquela noite e naquele horário, e mais ainda, todos os presentes vestiam roupas negras e estavam de cabeça baixa.

Continuou observando a igreja repleta. Foi então que o padre voltou-se para os fiéis, e para espanto de João Leite, aquele padre não tinha rosto. Era uma caveira. Assustado mas atento a tudo percebeu que os coroinhas também não passavam de esqueletos vestidos.

Correu desesperado o mais rápido que pôde, e deparou-se com o portão do cemitério aberto. Continuou correndo até chegar a seu quarto, do qual não saiu mais até o dia seguinte, passando a noite ouvindo aquela missa do além até o fim.

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A MISSA DOS MORTOS NA CATEDRAL DA CIDADE DO MÉXICO (CIDADE DO MÉXICO)

Catedral Metropolitana da Ciudad de México

Catedral Metropolitana da Cidade do México

Em meados do século XVIII, vivia na atual Calle de la Corregidora, um cavalheiro chamado Dom Alfonso de Gándara y Cifuentes, que herdara em 1656 a fortuna e nome de seu pai, que morrera 3 anos antes.

Um dia, sua vida tranquila foi abalada por um acontecimento misterioso. Dom Alfonso começou a receber cartas que não sabia quem enviava. A primeira recebida encontrou embaixo de sua taça de vinho e dizia: “Esteja preparado, deves ir à missa.”

Dom Alfonso começou a encontrar estas cartas nos lugares e horas menos esperados. Começou a crer que algum criado estava querendo assustá-lo. Um dia, já impaciente com aquelas cartas, quando achou uma nova carta, resolveu que a destruiría sem ler. Mas uma força estranha o impediu, acabando por ler esta nova mensagem que lhe chegara. A carta dizia: “Esta noite, à meia-noite na Cadetral, deves ir à missa.”

Não conseguindo mais ter paz em seu coração, acabou por contar a seu confessor o que lhe vinha acontecendo. O religioso pediu-lhe para ver a carta mas, ao buscá-la para mostrar não a encontrou mais. O religioso queria vê-la por achar que ao ver a letra poderia descobrir quem a escreveu. Dom Alfonso estranhamente achava a letra familiar, mas não imaginava de quem poderia ser.

Decidido a saber quem o convidava para esta missa à meia-noite, Dom Alfonso resolveu ir até a Catedral. Ao chegar, tudo estava silencioso e escuro. Aproximando-se mais descobriu uma luz escapando por entre as frestas. Ao chegar mais próximo da porta, ela abriu-se sem ruído e Dom Alfonso não conseguiu ver quem a poderia ter aberto. Entrando na Catedral aproximou-se do Altar dos Perdões, que já estava preparado para a celebração de uma missa. Dom Alfonso, neste momento, começou a crer que os insistentes convites para a missa não eram brincadeira, ajoelhando-se diante do altar. Quando ergueu o olhar, percebeu que o sacerdote já estava em seu lugar. A missa correu normalmente, apesar de não passar de um murmúrio triste. No momento da homilía, começa a recolher as doações um frei franciscano. Próximo a Dom Alfonso um cavalheiro colocou uma moeda, mas não fez qualquer ruído. Ao chegar a vez de Dom Alfonso, tirou de duas moedas e quando ia depositá-las o rosto do frei assustou-o terrivelmente. O cavalheiro gritou apavorado ao ver que o frei não passava de um esqueleto. Levantou-se e começou a buscar a saída ainda aos gritos. Ao virar-se para os demais presentes acabou por perceber que todos eles eram esqueletos, estavam todos mortos.

Neste momento, a porta abriu-se com um ruído rouco e arrepiante. Uma figura feminina apareceu, segurando um candelabro em cada mão. Dom Alfonso que já estava em pânico, nem acredita, ao ver que esta figura feminina era sua falecida mãe. Continuou correndo até a porta, e quanto mais aproximava-se dela, mais aqueles seres pareciam aproximar-se do cavalheiro. Nunca soube como saiu da Catedral.

Na manhã seguinte, Dom Alfonso foi encontrado junto à Cruz Manozca, com uma expressão de terror que fez a gente supor que havia visto o próprio demônio. Dom Alfonso foi levado para sua casa onde ficou em repouso até a tarde. Durante a tarde chamou seu confessor frei Miguel de Almeida contando o que havia lhe acontecido naquela noite. Pediu que o frei falasse com o bispo para também contar-lhe o que vivera diante do Altar do Perdão.

Altar do Perdão, Catedral do México.

Altar do Perdão, Catedral do México.

O bispo ouviu a história de Dom Alfonso, e conta uma parte da história desconhecida do cavalheiro. Na verdade, a história começava quando o bispo, os pais de Dom Alfonso e outros passageiros, vinham da Espanha rumo ao Novo Mundo. A viagem corria tranquila, até que de repente começou uma terrível tempestade. Os raios caiam tão próximo ao barco, que todos acreditavam que morreriam. Foi então que, toda a tripulação fez uma promessa: se chegassem sãos e salvos rezariam uma missa no Altar do Perdão. Chegaram todos sãos e salvos, e cada um foi viver sua vida. O pai de Dom Alfonso conseguiu fazer uma grande fortuna com o passar dos anos. Então lembrou-se da promessa feita na viagem e começou a buscar os companheiros de viagem para realizarem a missa no Altar do Perdão. Tristemente descobriu que todos já estavam mortos, morrendo ele poucos anos depois.

Ao ouvirem as histórias um do outro, bispo e cavalheiro dirigiram-se até o Altar do Perdão, onde encontraram os candelabros e a moeda.

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Lendas adaptadas de:

Leyendas Coloniales

Portal São Francisco